sexta-feira, 27 de junho de 2014

Enfrentando o dodói (e a culpa) nosso de cada dia

É assim: você põe o pequeno na escolinha e recebe o “saldo” do empreendimento todo mês: virose. Gripe. Febre sem explicação. Outra virose. Suspeita de rubéola. Esquece a rubéola, era alergia. Outra gripe. Início de pneumonia. Mãe surtando pra dar conta do filho doente, do trabalho, da casa e das coisaiadas da vida toda. Pára o mundo que eu quero descer!

E aí, eu que me orgulhava de ser a funcionária exemplar com 11 anos de empresa sem nunca ficar com mais de 8 horas em débito, me vejo devendo trocentas mil e novecentas horas, sem ter como pagar e sem ter pra onde fugir...e ainda tendo que pedir arrego – e conseguindo, graças a Deus – umas férias urgentes de 10 dias pra cuidar do loirinho dodói.

A vida não é muito (nada) justa com as mães. Com as mães que trabalham então, diria que ela é meio madrasta. Como é que faz, ó Senhor, você ter um serzinho pequetito que depende de você, quase 39 de febre, tossindo horrores, precisando ir ao médico e você simplesmente deixá-lo aos cuidados de outros (mesmo que seja a vovó) sendo que nessa hora SÓ VOCÊ pode ser a melhor companhia dele?

Não faz. Você falta ao trabalho, você clama pra Nossa Senhora dos Patrões Bonzinhos e faz plantão na porta do pediatra. De repente, aquele pestinha ligado no 220v ta com a bateria fraca e fica prostradinho ali nos seus braços. Aí você se arrepende de cada vez que pensou “vou dar maracujina pra ver se o moleque sossega” e não vê a hora dele por a estante da sala abaixo outra vez e aí você saber que ta tudo bem de novo.

Enquanto isso você lida com tudo quanto é culpa que pode te passar pela cabeça. Aliás, culpa e maternidade são palavrinhas sócias, nasceram gêmeas, as danadas. Você acha que é sua culpa porque se esqueceu de por o gorrinho no pequeno naquele dia mais frio. Ou porque mandou ele muito cedo pra escolinha e o moleque ainda não tinha imunidade suficiente. Ou porque não deu um empurrão naquele bendito desconhecido que pos a mão no seu bebê na sala do pediatra (que mania que o povo tem de ficar pegando na mão do bebê, né? Vai por a mão na vó...). Ou porque a vitamina C acabou e você não comprou outra faz dois dias. Ou culpa da sua genética. Ou porque não deu esmola pro mendigo e ele te mandou pro inferno logo depois. E você acha que a praga pegou.

Mas o negócio é o seguinte: bebês ficam doentes. Porque são seres humanos. Porque estão criando sua imunidade. Porque sim.

Pode dar vitamina C, laranja com cenoura, chá de guaco com hortelã, passe...ele vai ficar dodói, você vai morrer de preocupação e de culpa e, no fim, ele vai ficar bonzinho de novo. Impressionante a capacidade que esses pequenos têm de se recuperar rápido. Em 2, 3 dias já estão um foguetinho de novo. E aí você recomeça a pensar na possibilidade da maracujina (hahaha....brincadeira. Ta bom, eu pensei nisso. Mas já passou.)

E o negócio é nem dar muita bola pros pitacos alheios não. Tem muita gente, por ingenuidade ou pra te cutucar mesmo, que vai te falar: mas nossa! Por que será que ele ta assim? Você ta dando bastante fruta pra ele? Mas esse menino não pára de ficar doente, que coisa...você ta agasalhando bem ele?

Não. Eu tô deixando ele nadar pelado na piscina de madrugada. Tá tomando chá quente e depois sai correndo na chuva. Eita...eu sou mãe, mas, embora quisesse muito, ainda não tenho o poder de matar com um golpe de vista todos os micróbios, vírus e bactérias que ousem se aproximar do meu filho. No mais, dou comidinha nutritiva, ponho agasalho e a carteira de vacinação tá em dia. O resto é por conta do destino.


Vai continuar indo pra escolinha mesmo assim? Vai. Infelizmente, não sou uma felizarda de poder contar com uma babá pra ficar com meu filhote em casa (bem que eu tentei, mas não consegui). Vai ficar doente de novo daqui uns tempos? Provavelmente. Mas vai criar sua imunidade. E vai ter piolho que nem todo mundo. Que nem eu e você. E eu vou pirar cada vez que isso acontecer, mas vou tratar logo de expurgar a culpa e me tranqüilizar porque meu filho logo vai estar zero bala de novo. E muito bem de saúde, obrigada.