É assim: você põe o pequeno na escolinha e recebe o “saldo”
do empreendimento todo mês: virose. Gripe. Febre sem explicação. Outra virose.
Suspeita de rubéola. Esquece a rubéola, era alergia. Outra gripe. Início de
pneumonia. Mãe surtando pra dar conta do filho doente, do trabalho, da casa e
das coisaiadas da vida toda. Pára o mundo que eu quero descer!
E aí, eu que me orgulhava de ser a funcionária exemplar com
11 anos de empresa sem nunca ficar com mais de 8 horas em débito, me vejo
devendo trocentas mil e novecentas horas, sem ter como pagar e sem ter pra onde
fugir...e ainda tendo que pedir arrego – e conseguindo, graças a Deus – umas
férias urgentes de 10 dias pra cuidar do loirinho dodói.
A vida não é muito (nada) justa com as mães. Com as mães que
trabalham então, diria que ela é meio madrasta. Como é que faz, ó Senhor, você
ter um serzinho pequetito que depende de você, quase 39 de febre, tossindo
horrores, precisando ir ao médico e você simplesmente deixá-lo aos cuidados de
outros (mesmo que seja a vovó) sendo que nessa hora SÓ VOCÊ pode ser a melhor
companhia dele?
Não faz. Você falta ao trabalho, você clama pra Nossa
Senhora dos Patrões Bonzinhos e faz plantão na porta do pediatra. De repente,
aquele pestinha ligado no 220v ta com a bateria fraca e fica prostradinho ali
nos seus braços. Aí você se arrepende de cada vez que pensou “vou dar
maracujina pra ver se o moleque sossega” e não vê a hora dele por a estante da
sala abaixo outra vez e aí você saber que ta tudo bem de novo.
Enquanto isso você lida com tudo quanto é culpa que pode te
passar pela cabeça. Aliás, culpa e maternidade são palavrinhas sócias, nasceram
gêmeas, as danadas. Você acha que é sua culpa porque se esqueceu de por o
gorrinho no pequeno naquele dia mais frio. Ou porque mandou ele muito cedo pra
escolinha e o moleque ainda não tinha imunidade suficiente. Ou porque não deu
um empurrão naquele bendito desconhecido que pos a mão no seu bebê na sala do
pediatra (que mania que o povo tem de ficar pegando na mão do bebê, né? Vai por a mão na
vó...). Ou porque a vitamina C acabou e você não comprou outra faz dois dias.
Ou culpa da sua genética. Ou porque não deu esmola pro mendigo e ele te mandou
pro inferno logo depois. E você acha que a praga pegou.
Mas o negócio é o seguinte: bebês ficam doentes. Porque são
seres humanos. Porque estão criando sua imunidade. Porque sim.
Pode dar vitamina C, laranja com cenoura, chá de guaco com
hortelã, passe...ele vai ficar dodói, você vai morrer de preocupação e de culpa
e, no fim, ele vai ficar bonzinho de novo. Impressionante a capacidade que
esses pequenos têm de se recuperar rápido. Em 2, 3 dias já estão um foguetinho
de novo. E aí você recomeça a pensar na possibilidade da maracujina
(hahaha....brincadeira. Ta bom, eu pensei nisso. Mas já passou.)
E o negócio é nem dar muita bola pros pitacos alheios não.
Tem muita gente, por ingenuidade ou pra te cutucar mesmo, que vai te falar: mas
nossa! Por que será que ele ta assim? Você ta dando bastante fruta pra ele? Mas
esse menino não pára de ficar doente, que coisa...você ta agasalhando bem ele?
Não. Eu tô deixando ele nadar pelado na piscina de
madrugada. Tá tomando chá quente e depois sai correndo na chuva. Eita...eu sou
mãe, mas, embora quisesse muito, ainda não tenho o poder de matar com um golpe
de vista todos os micróbios, vírus e bactérias que ousem se aproximar do meu
filho. No mais, dou comidinha nutritiva, ponho agasalho e a carteira de
vacinação tá em dia. O
resto é por conta do destino.
Vai continuar indo pra escolinha mesmo assim? Vai.
Infelizmente, não sou uma felizarda de poder contar com uma babá pra ficar com
meu filhote em casa (bem que eu tentei, mas não consegui). Vai ficar doente de
novo daqui uns tempos? Provavelmente. Mas vai criar sua imunidade. E vai ter
piolho que nem todo mundo. Que nem eu e você. E eu vou pirar cada vez que isso
acontecer, mas vou tratar logo de expurgar a culpa e me tranqüilizar porque meu
filho logo vai estar zero bala de novo. E muito bem de saúde, obrigada.